Encontro





Do nada, me deparei com o estranho, com o novo e resoluto mundo dos encontros. Não foi fácil sair do meu próprio baú, mas enfim o momento surgiu e o que restou foi ter de ser corajosa. Sabe quando o mundo inteiro manda de um jeito impulsivo que você dê mais um passo? Pois bem, é isso que acontece hoje, nessa fase, nesse percurso inaugurado que é encontrar outrem.
Passados, presentes, futuros. Sonhos entrecortados por causa de estranhas calamidades que nos cercam e definham aos poucos. Pode ser dentro de casa, fora ou até da varanda que observamos. Tudo circula até que nos atinja, e se não atinge sofre pelo tiro errado dado bem longe do alvo. Nós não sabemos com o que lidamos até que alguém nos diga, e se ninguém faz esse papel sofremos feito andorinha sem parceiro no verão.
Mas ninguém talvez entende do que se tratam essas palavras, enfim, falta-me a decência de explicar, porque nos últimos meses a vontade de desistir de tudo foi bem maior. Mas por fim, venceu a esperança. E nela resplandece toda a graça da continuidade. Ela é infinita, sorrateira e brilhante, uma amiga e tanto, uma cúmplice praticamente, e não sei o que seria dos encontros sem ela.
No outro que veio até mim encontrei sossego, sossego pra alma que dizia coisas sem sentido, que só hoje vejo como eram ínfimas e fracas de validade. No outro de quem cheguei perto, perto demais, encontrei um reflexo, daquilo que gosto, não gosto, aprovo e desaprovo corriqueiramente. Nos outros as dimensões são maiores, mas nem por isso diferentes.
Se quinhentas vezes me dissessem como encontrar é difícil, não saberia ainda sentir a verdade da frase. Só se sabe vivendo, vendo, deixando acontecer. Encontrar não é ir adiante com fervor de batalha, é ir com medo, medo demais até, pra conhecer algo/alguém de quem coisas estranhas se espera. Iludimo-nos no derradeiro momento, achamos no outro uma fagulha de super-humano que não nos deixa achar nada mais que as expectativas desenhadas em seus olhos. Porém, pobres somos de interpretação, pois além daquela ilusão temos apenas mais um pedaço de gente à espera de aceitação. 
Se eu fosse um livro, provavelmente seria um manuscrito inacabado. E de tanto medo de ser fechado talvez me deixasse cair de uma prateleira qualquer para ter a sorte de definhar com páginas amareladas no chão. E nisso reside a graça da nossa historinha. Um livro do lado do outro, um encontro no meio do caos do íntimo. Quando pensamos que estamos sós, ai sim estamos espremidos entre centenas de milhares de semelhantes. Queremos só a ilusão de que estamos sozinhos, criamos isso em nossa mente e não deixamos que nada interfira esse pensamento afável ao ego. A gente é resquício de muita coisa construída, mas vive se achando a invenção mais sofisticada do mundo. Pobre espírito sonhador esse meu! Vive de desilusões e mesmo assim nunca morre de fome. Dá pra engolir versos, rimas, provérbios, expressões e num passe de mágica estamos lá achando-nos vazios, mesmo cheios de nós mesmos. Por isso, vale a pena essa façanha do encontro, que não nos deixa ver mais nada além do outro, dando-nos enfim o cansaço apropriado do "eu solitário".
Encontro no outro distração, força e ambiguidade. As vezes raiva contida, medo, surpresa e saudade. Encontramos no outro a familiaridade que faltava chegar mais perto. É uma casa aquele outro e eu nunca tinha reparado! Cheio de espaço, cheio de abraço, cheio de carinho e quem sabe um tanto de descaso. O mundo é só um globo de neve que chacoalhamos cotidianamente, sem saber o motivo, mas pela beleza de ver as coisas se moverem mesmo que dentro do mesmo espaço.
Encontrar me fez ver o que é sintonia, ainda quando não há sequer interesse, desejo ou vontade. Quem dera uma forte e bela verdade seja dita em sua cabeça em um dia desses qualquer. Sem imaginar ou esperar, talvez a sensação de estar sozinho se dissipe num instante, levante as mãos aos céus e faça um pedido em pleno dia. O pedido será atendido no momento apropriado, será um encontro dobrado de um viajante com seu destino.
Acho que tenho muitas frases soltas nesse texto, muitos pensamentos dissonantes, muitos enriquecimentos que me empobrecem, mas que no encontro podem ser úteis, fáceis de manusear. Pois se falo, pretendo ter em algum lugar ouvido, se ouço quero que me venha sentido, se sonho com os encontros é porque deixei de temer aquilo para o que nasci para sentir e viver. A vida, a efêmera vida vai me dizer em breve o que nem eu soube me dizer: que os encontros são a chave da existência, e se o mundo carece, carece é de tal experiência.

Comentários

  1. Faz sentido. Quando deixamos que o nosso mundo íntimo-interior toque outros mundos e seja tocado por estes, uma explosão de sensações tangíveis e outras inalcançáveis ocorrem, e gera um desconforto que instiga uma busca por aconchego que outrora encontrava em si mesmo, na própria solidão bem administrada, mas que agora faz todo sentido ser encontrado no outro. Encontro de mundos é quase como um multiverso pouco explorado, que deixa mísero e pequeno o nosso universo, mas que nos torna vivos e sociáveis.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito bem feita sua colocação, Rafael. Concordo plenamente. Encontrar o outro é caminhar em direção a um verdadeiro encontro com nossa essência demasiadamente humana. Volte sempre que quiser, obrigada por acrescentar meu ponto de vista ^^

      Excluir

Postar um comentário